16.10.07

Num comeco de sexta feira, espera ansiosa, como de costume, os telefonemas convidativos. Eles surgem menos que o normal, menos que semana passada, mas ela nao se importa, passa o delineador e escolhe usar seu scarpin predileto.


Entra no carro sozinha, para variar. E estranha a ausência do xadrez, do cigarro, do sono. Mas segue. Vai ao encontro dos outros, que agora, só completam seu sentimento de vazio. Não por hoje, por ontem. Mas por um sempre, que não sabe definir quando começou.



Sintoniza o rádio, esboca um sorriso com a cancao tocada e canta com ela: " Muito pouco acostumada atravesso a rua,já sem olhar a esquina...".
Pisa no acelerador e durate 1 minuto, esquece a pista diante de si, segue embalada pela imagem dos arcos.




Distraida pela música, o caminho parece mais curto. Chega, entra num botequim qualquer e compra seu cigarro. Sai de lá e já sobe as escadas. Talvez tenha se adiantado demais, não reconhece nenhum rosto. Caminha para uma das sacadas e senta.



Gosta da sensacao de estar sozinha, sente-se quase obrigada a conhecer novos alguéms, levanta num pulo e se aproximo de um sorriso entristecido.Divaga ao caminhar para uma semelhanca, seus olhos brilham ao perceber que surpreendeu um pouco aqueles lábios sem vida. Não que os seus tivessem, mas sempre gostara de detalhes, e via agora, na sua frente, a necessidade de outra pessoa por novidades.



Ela apoiada na parede via aquele rosto diferente se aproximando como se a conhecesse. E reconhecia alguma coisa de si naquele olhar.Poderia até ser a falsa expectativa pelo novo, porque sabia que aqueles olhares transmitiam o passado que ainda circulavam em suas veias.


Pediu uma cerveja e dois copos, enchera-os até o limite. Sentaram-se, se apresentaram, brindaram e beberam. Logo depois decobriu-se a semelhança. E era essa. O passado preso no presente. Entrelaçado, costurado, ficava pesado e o futuro se mostrava distante. Para as duas.



Entretida, ou pelo menos fingindo estar, continua esvaziando seu copo na tentativa de que o reflexo do liquido desse brilho aos lábios que a interessaram. Enchia-os rapidamente de novo, fazendo com que transbordasse a espuma, entao ria e sacudia suas maos molhadas. Trocaram meia dúzias de palvaras, mais do que isso ñ foi necessário, pareciam ter se conhecido bem antes daquele dia.



Seus celulares tocaram quase sincronicamente. Eram seus xadrezes. Uma mostrou para a outra o nome que piscava no visor. Se olharam e só. Os telefones foram trocados de mãos e desligados. Seus lábios agora brilhavam.